Presidente da Petrobrás debocha da sociedade”, diz federação dos petroleiros
No Senado, chefe da estatal negou responsabilidade sobre os aumentos dos derivados. Entidade contesta e afirma que só este ano a gasolina subiu 71,6%, o diesel 64,5%, e o gás Apesar do congelamento do ICMS, gasolina em Goiás gasolina subiu 8,6% em novembro
No Senado, chefe da estatal negou responsabilidade sobre os aumentos dos derivados. Entidade contesta e afirma que só este ano a gasolina subiu 71,6%, o diesel 64,5%, e o gás Apesar do congelamento do ICMS, gasolina em Goiás gasolina subiu 8,6% em novembro |
A Federação Única dos Petroleiros (FUP) acusa o presidente da Petrobrás de mentir para o Congresso Nacional. O chefe da estatal, Joaquim Silva e Luna, esteve na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado Federal na última terça-feira, 23, e negou que a Petrobrás tenha qualquer responsabilidade quanto aos aumentos nos preços dos combustíveis. Só este ano o valor da gasolina, por exemplo, subiu 13 vezes nas refinarias. Alta acumulada de 71,6%.
O maior quantitativo de elevações, no entanto, afeta o diesel. Foram 14 aumentos que, juntos, deixaram esse combustível 64,5% mais caro nas refinarias. O gás de cozinha aparece no terceiro lugar do ranking, com oito reajustes que totalizam 47,7%. “O presidente da Petrobrás debochou da sociedade ao negar responsabilidade sobre os aumentos dos derivados”, escreve a FUP, em nota.
De acordo com a entidade, as altas estão relacionadas a política de Preço de Paridade de Importação (PPI) adotada em 2016 pelo então presidente Michel Temer (MDB) e mantida pelo governo Jair Bolsonaro (sem partido). “As refinarias da Petrobrás podem refinar 2,4 milhões de petróleo por dia, mas, por decisão da gestão da empresa, elas estão refinando abaixo dessa capacidade. Desde que o PPI foi implantado em 2016, as refinarias tiveram a carga de produção reduzida e operam hoje com uma média de 75% da capacidade total. Com isso, o Brasil passou a importar cada vez mais derivados”, afirma o coordenador-geral da Federação Única dos Petroleiros (FUP), Deyvid Bacelar.
A empresa, ainda conforme a entidade, se a empresa operasse com 100% da capacidade o país praticamente não precisaria importar derivados. “No caso da gasolina, a produção atual das refinarias é suficiente para abastecer o mercado interno, mas, mesmo assim, o Brasil está importando gasolina a preços internacionais. Em relação ao óleo diesel e ao GLP, o país precisa aumentar a produção nacional em 24% e em 37%, respectivamente, para deixar de importar esses produtos”,diz.
Segundo Bacelar, a PPI favorece as importadoras de combustíveis e prejudica o país, pois as altas abusivas dos combustíveis são foco da disparada da inflação, que atingiu 10,67% em doze meses, até outubro. “Joaquim Silva e Luna preferiu afirmar que a empresa ficou 90 dias sem reajustar o gás de cozinha (GLP), como se isso fosse uma vantagem, mesmo sabendo que o preço do botijão do gás de cozinha, acima de R$ 120 em algumas regiões do país, representa mais de 10% do salário mínimo, e que famílias carentes estão usando lenha para cozinhar, em alternativa ao gás”, critica.
Lucro
Para a Federação Única dos Petroleiros (FUP), Joaquim Silva e Luna omitiu ao Senado Federal que o Preço de Paridade de Importação garante elevados lucros para a Petrobrás e também o pagamento de dividendos recordes a acionistas. Só este ano, por exemplo, os sócios da Petrobrás receberam R$ 63,4 bilhões. Desse total, 43% foram para investidores não-brasileiros. Em termos comparativos, ao longo de 2021 a estatal direcionou R$ 37 bilhões para investimentos.
A entidade também refuta a alegação do presidente da Petrobras de que a empresa participa com R$ 2,33 do preço do litro da gasolina. Isso porque, conforme a FUP, o chefe da petroleira não explicou que a parcela do preço que mais aumentou foi o da própria Petrobrás. Informações da Agência Nacional do Petróleo (ANP) mostram que nos últimos dois anos o valor do litro da gasolina cobrado pela estatal e os importadores subiu de R$ 1,20 para R$ 2,02 (em outubro de 2021), aumento de quase R$ 0,82. “Nenhum outro componente teve uma expansão tão grande de preços”, sublinha a federação.
Centro-Oeste
Também pela política de preços adotada pela Petrobras, o Estado de Goiás compra da empresa uma das gasolinas mais caras do país. Na modalidade Livre Para Armazém (LPA), a distribuidora de Senador Canedo, responsável pelo abastecimento da Capital e de outros municípios da região, tem o valor mais caro praticado no país. Já na categoria Ex-Ponto A (EXA), o metro cúbico cobrado de Goiás só é mais baixo do que o valor pago pelo Distrito Federal. As informações constam de tabela divulgada pela própria estatal. Um dos fatores que fazem com que a região Centro-Oeste tenha a gasolina mais cara do país.
Levantamento do Índice de Preços Ticket Log (IPTL) mostra que, com aumento de 7,25%, em relação ao mês de outubro, o combustível no Centro-Oeste foi encontrado a, em média, R$7,054 neste mês de novembro. No Estado de Goiás, o etanol foi comercializado a R$5,298, com alta de 8,4%. A gasolina fechou com acréscimo de 8,6%, vendida a R$ 7,197, mesmo com o congelamento do Imposto Sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), anunciado pelo governador Ronaldo Caiado no final de outubro.
Apenas Silva e Luna compareceu na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado. Embora convidados, os ministros da Economia, Paulo Guedes, e de Minas e Energia, Bento Albuquerque não estiveram na reunião.