Veja quem são os presos que fugiram nos saidões e são caçados pela polícia
Em 2021, mais de 170 detentos não retornaram dos oito saidões do ano ou de trabalho externo. As informações constam no sistema de fugitivos da Secretaria de Administração Penitenciária (Seape-DF)
Presos por crimes (como) homicídios, tráfico de drogas, roubos, latrocínios, furtos e lesão corporal, mais de 170 criminosos homens e mulheres condenados pela Justiça, do Complexo Penitenciário da Papuda e do Centro de Progressão Penitenciária (CPP) não retornaram dos oito saidões ou de trabalhos externos em 2021 e são considerados foragidos. Os dados foram obtidos pelo Correio por meio da plataforma de procurados alimentada pela Secretaria de Administração Penitenciária (Seape-DF) (veja Fugitivos).
O sistema da Seape-DF foi atualizado recentemente pela equipe técnica e constam informações detalhadas, como nomes e fotos dos detentos foragidos, a ficha criminal, cidade onde reside, números dos processos, crime que cometeu, delegacia responsável pela prisão, data e razão da fuga. De acordo com o levantamento da pasta, de 15 de janeiro a 24 de dezembro de 2021, 173 detentos são procurados pela Justiça. Na base de dados, constam, ainda, o número de fugitivos entre 3 de fevereiro e 29 de dezembro de 2020. Nesse período, 38 presos não retornaram do saidão ou trabalho externo. Em 2019, de janeiro a dezembro, foram 42.
A Papuda, o CPP e a Penitenciária Feminina do DF (PFDF) abrigam mais de 15 mil presos, que cumprem o regime fechado e semiaberto. Só na Papuda, há cinco presídios: dois Centros de Detenção Provisórios (CDPs), as Penitenciárias do Distrito Federal I e II (PDFs I e II) e o Centro de Internamento e Reeducação (CIR). Os detentos do semiaberto têm direito aos saidões, a depender de uma avaliação prévia da Justiça. Só no ano passado, foram oito, que ocorreram em meses diferentes. As datas do benefício podem cair em dias de feriados ou não. A determinação é da juíza da Vara de Execuções Penais (VEP), Leila Cury e o não retorno pode resultar em falta grave para o interno.
Fugitivos
Com base nos dados do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), o DF tem mais de 5,6 mil presos do semiaberto, que são lotados tanto na Papuda quanto no CPP, no Setor de Indústria e Abastecimento (SIA). No último saidão de 2021, em 24 de dezembro, véspera de Natal, a Justiça liberou 1.876 presidiários. A data de retorno foi em 28 de dezembro.
O Correio pesquisou alguns nomes de fugitivos que constam no sistema da Seape-DF e foram presos por crimes diversos. Um deles é Jeferson Alexsandro da Silva Folha, morador de Ceilândia, e condenado a oito anos por tentar matar a tiros o namorado da ex-companheira. O crime aconteceu em janeiro de 2019. À época, a vítima foi gravemente atingida por bala e ficou internada por vários dias no hospital. Jeferson responde por tentativa de homicídio qualificado por motivo torpe e uso de recurso que impossibilitou a defesa da vítima e estava detido na Papuda, mas saiu na saída temporária em 28 de novembro e não mais retornou.
Também morador de Ceilândia, Nataniel dos Santos Bezerra é considerado foragido depois de ser beneficiado com o saidão em novembro do ano passado. O preso acumula passagens por tráfico de drogas, furto, roubo e foi detido na operação “Dunamis”, da Divisão de Roubos e Furtos (DRF), que desarticulou uma quadrilha especializada em furtos de casas lotéricas no DF e Entorno. Nataniel foi apontado na época como o líder do grupo e, segundo as investigações, ele e os comparsas, em uma das ocasiões, arrombaram uma lotérica da Quadra 202 de Santa Maria e levaram mais de R$ 30 mil.
Acusada de planejar o assassinato do marido, Orlandina Gomes Viana, presa em abril de 2018, não retornou do trabalho externo em 8 de outubro de 2021. O plano macabro foi descoberto a tempo pelos policiais civis da 21ª Delegacia de Polícia (Taguatinga Sul). De acordo com a apuração policial, a mulher teria orquestrado, junto a dois comparsas, o homicídio, um roubo e um furto. No suposto roubo, criminosos, a mando de Orlandina, deixaram um bilhete na casa do casal em tom de ameaça à vítima. Os investigadores agiram a tempo e conseguiram prender a mulher e um dos envolvidos antes de cometerem o assassinato.
Ainda em outubro do ano passado, Micael Desimar da Silva Santos também não retornou do trabalho externo. Ele foi preso e condenado a 9 anos e 11 meses de prisão depois de tentar matar um homem em uma barraca de cachorro-quente, após a vítima ter supostamente debochado de uma pegadinha. Maicon trabalhava como atendente no local na época e preparava o lanche da vítima, quando teria se irritado om a risada do cliente. Ao questionar o rapaz sobre o motivo de estar rindo, a vítima respondeu que era de um programa de televisão, mas, não satisfeito, Micael pegou uma arma e deu um tiro na nuca do homem.
Caso parecido com o de Micael, o detento Dábio Rogério Ribeiro Coelho foi preso depois de matar um rapaz que teria o chamado de “comédia”. O crime aconteceu em novembro de 2006, na Asa Norte. Dábio estava na Papuda, mas foi contemplado com a saída temporária em maio de 2021 e não voltou. Também em maio, o detento Marlon Ferreira Santana foi alvo de uma operação deflagrada pela Coordenação de Repressão às Drogas (Cord) em 2016, que prendeu seis pessoas com 1 mil tijolos de maconha, no Engenho das Lages, no Entorno do DF. Marlon saiu para a saidinha e é considerado foragido.
Em novembro de 2021, Elvis Gabriel Danilo Pereira não retornou da saidinha. Em junho de 2012, ele e o tio participaram de um latrocínio contra um pedreiro, de 44 anos, em Santa Maria. A vítima foi morta na frente da mãe, após levar um tiro.
Tráfico, estelionato e roubo de pedras preciosas
Detido por envolvimento em vários roubos de cargas de cigarros em regiões de Goiás, Raayne Silva Barros é procurado depois de sair temporariamente em abril de 2021. Ele foi preso pela Polícia Civil do Estado de Goiás (PCGO) em junho de 2018 e, segundo as investigações, Raayne agia de forma violenta durante os assaltos aos motoristas de caminhões, com emprego de arma de fogo e restrição de liberdade.
Considerado um criminoso de alta periculosidade, Francileuso Costa Sousa foi condenado a 21 anos de prisão por latrocínio (roubo seguido de morte) ocorrido em Santa Maria, em 2003. Após ganhar a progressão para o regime semi-aberto, ele não mais retornou ao sistema prisional, em 13 de abril de 2021. O homem também é acusado de matar o próprio cunhado, em 2011, em Novo Gama (GO).
Em março de 2021, Fábio Vieira de Paula também não retornou da saidinha. Com várias passagens, ele foi condenado por estelionato, após ostentar uma vida de luxo utilizando documentos falsos para comprar carros. À época, em 2013, o homem vendia os veículos rapidamente para não ser descoberto e utilizava o dinheiro para fazer viagens, comprar joias de luxo e se hospedar em hotéis caros.
O Correio também selecionou um caso de um preso que foi beneficiado com a saída temporária em dezembro de 2020 e não voltou. Humberto Teixeira Galvão Júnior foi preso na operação Bagdá, da PCDF em conjunto com o Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT), onde foi acusado de integrar uma quadrilha especializada em roubos de pedras preciosas no DF. As joias estavam avaliadas em aproximadamente R$ 300 mil e foram roubadas de uma residência no Lago Norte em novembro de 2017.
Na época, na operação, também foram detidos o iraquiano residente no Brasil, Saleem Mohammed; o ex-policial militar Fábio Alves da Cunha; Jeferson da Silva Barros de Melo; Angerlando Bezerra Rodrigues; e Radilton da Silva Dantas. (Clique aqui para ver a lista completa dos presos).
Denuncie
A Seape-DF dispõe no site um link para denúncias anônimas (clique aqui). Além disso, as denúncias podem ser feitas pelo disk-denúncia da Diretoria de Operações Especiais (Dpoe) da Seape-DF: (61) 94510650; ou pelo 190 da PMDF; ou pelo 197 da Polícia Civil.
Em trabalho ininterrupto, policiais penais do DF trabalham para recapturar foragidos do sistema prisional. Em 14 de outubro de 2020, a Papuda registrou a maior fuga da década. As forças de segurança do DF conseguiram localizar todos os 17 foragidos, que foram recapturados e recolocados nos presídios.