Ômicron vai levar sistema de saúde ao colapso em uma semana, diz médica Ludhmila Hajjar
“Pelo ritmo que estamos vendo, o número de infecções aumentará mais ainda nos ambulatórios e provavelmente faltarão mais profissionais da saúde no combate”
Nascida em Anápolis (onde mora sua família), formada pela UnB e doutora pela USP, a médica — intensivista e cardiologista — Ludhmila Hajjar é uma unanimidade no meio médico pela competência. Ela trabalhou no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, ao lado do cardiologista Roberto Kalil Filho. Era seu braço direito. No momento, trabalha na Rede D’or e é professora da Universidade de São Paulo. Na quarta-feira, 12, concedeu uma entrevista bombástica à repórter Adriana Dias Loes, do jornal “O Globo”.
Durante a pandemia da Covid-19, Ludhmila Hajjar atendeu mais de mil pacientes infectados. Entre eles estão o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, Dias Toffoli, ministro do Supremo Tribunal Federal, e Eduardo Pazuello, ex-ministro da Saúde. A repórter ressalta que a variante Ômicron provoca “muitas infecções e poucas mortes entre os vacinados” e quer saber se “esse perfil pode mudar”. A médica postula: “Estamos lidando com um vírus novo, altamente mutagênico, que pode ainda nos trazer surpresas. Essa incerteza reforça ainda mais a importância da vacinação”. E, se mata menos, continua matando.
Cientistas, como Pedro Hallal, sugerem que a Ômicron, dado o “atual perfil das infecções” (mais brando), pode ser o começo do fim da pandemia do novo coronavírus. Ludhmila Hajjar concorda: “Sim, e por um motivo principal. Temos pela primeira vez a junção de dois fatores: uma variante altamente prevalente infectando muita gente imunizada. Isso faz com que um número alto de pessoas se infecte com a forma branda da doença, o que é bom para a imunização”. Porém, a médica ressalva: “Não podemos, entanto, baixar a guarda com a vacinação”.
As UTIs estão atualmente só com casos de Covid ente os não vacinados. Os imunizados dificilmente passam do atendimento ambulatorial.
A repórter inquire: “Como você vê no dia a dia dos hospitais as diferenças entre o paciente infectado pela Ômicron que foi vacinado e o não imunizado ou com o ciclo incompleto?” Ludhmila responde: “Brutal. As UTIs estão atualmente só com casos de Covid ente os não vacinados. Os imunizados dificilmente passam do atendimento ambulatorial. (…) A variável mais expressiva em relação ao perfil da doença tem sido definitivamente o não vacinado”.
A médica conta que, como intensivista, tem visto pacientes em estado grave que admitem que estão arrependidos por não terem se vacinado. “Eles chegam com a forma grave da doença, se arrependem, porém, é tarde.”
O jornal registra que há muitas baixas entre os profissionais de saúde, por causa da Ômicron. Os próximos dias serão terríveis, diz Ludhmila Hajjar. Na parte mais impactante da entrevista, a médica assinala: “Pelo ritmo que estamos vendo, em uma semana os sistemas de saúde deverão entrar em colapso no Brasil. O número de infecções aumentará mais ainda nos ambulatórios e provavelmente faltarão mais profissionais da saúde no combate. A maioria dos médicos e enfermeiros foi imunizada com duas doses da CoronaVac e reforço da Pfizer. A CoronaVac foi importantíssima no início, frente à inexistência de outras. Mas ela não protege como as outras em relação a novas variantes. Muitos de nós seremos infectados. De uma forma mais branda em relação ao que se viu há um ano, quando não havia imunizantes no Brasil. Mesmo assim, seremos afastados. Só na minha área do Hospital das Clínicas, de São Paulo, temos 55 profissionais afastados”.