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Garimpo ilegal em Goiás é maior do que se pensava

Garimpo ilegal em Goiás é maior do que se pensava

Italo Wolff

O recém criado Batalhão Ambiental da PM identificou extração de ouro e diamantes em Goiás feita por garimpeiros veteranos de outros estados

poder público sempre acreditou que o garimpo ilegal fosse um crime de pequena proporção em Goiás, até a criação do Batalhão Ambiental da Polícia Militar (PM), em 2022. O batalhão, que faz patrulhamento náutico em rios de difícil navegação, começou a encontrar diversos pontos do garimpo, que é conduzido de uma forma particular no estado. Em 2023, a colaboração entre as forças do estado e da união deve revelar uma atividade ainda maior do que conhecemos atualmente.
Diferentemente do garimpo ilegal em Roraima, que veio à tona com a crise dos Yanomami, os garimpeiros em Goiás não se estabelecem em pontos fixos para praticar o chamado “garimpo de barranco”. Na terra dos Yanomami, os garimpeiros usavam máquinas pesadas para gradualmente desfazer morros, então lavavam o produto da escavação em rios e transportavam o ouro encontrado por via aérea.

Em vez disso, em Goiás, se pratica o chamado “garimpo de balsa”. Por alguns dias, os garimpeiros ilegais vivem a bordo de balsas metálicas com cerca de 25 metros quadrados que eles mesmos fabricam. Ancoradas em regiões de difícil acesso, cobertas por matas ou cercadas de pedras, as balsas podem se mover rápida e furtivamente enquanto os garimpeiros lavam cascalho para buscar por minérios.
O tenente-coronel Geraldo Pascoal, comandante do Batalhão Ambiental, afirma que já se sabia da existência do problema, mas que sua extensão está sendo diagnosticada apenas agora, com um destacamento da PM dedicado a fazer ronda nos rios. Segundo ele, o garimpo de ouro se concentra no Rio Corumbá, na região Leste do Estado, próximo à Orizona e Pires do Rio. Ali, garimpeiros usam o mercúrio (metal altamente poluente) para buscar ouro. Outros locais problemáticos são o Rio Pilões, Rio Claro e Rio Caiapó, no Oeste do estado, onde garimpeiros buscam principalmente diamantes.
Apenas em 2022, o Batalhão Ambiental prendeu 28 pessoas e destruiu 14 balsas em diversas operações para coibir este crime. O comandante do batalhão afirma que os garimpeiros não praticam apenas um crime ambiental, mas trazem consigo diversos problemas sociais e de polícia: “Frequentemente, esses garimpeiros já estavam na ilegalidade em outros estados, e escolhem Goiás para se refugiar. O fluxo desses criminosos para cidades pequenas traz também a prostituição, furtos, roubos e tráfico de drogas.”
O tenente-coronel Geraldo Pascoal afirma que o estado tem sido escolhido por características geográficas e por ter sido relativamente menos vigiado do que os vizinhos ao norte, mas que com a intensificação das atividades de fiscalização, devemos ver crescer o número de apreensões. “Goiás era um lugar bom para se esconder, porque havia pouca fiscalização. Mas, com a criação do batalhão em 2022, temos descoberto uma grande atividade.”
Geraldo Pascoal revela como essas operações tipicamente acontecem: “Os garimpos de balsa são de muito difícil acesso, pois as matas ciliares impedem a chegada até eles pela terra. É cômodo para o garimpeiro atuar, se esconder. Nas operações, temos de chegar silenciosamente de barco até um local próximo e nos mover longas distâncias a pé. Ali, não existe sinal de celular, então é difícil pedir apoio. O batalhão fica por si só.”
“Primeiro, fazemos um levantamento; atestamos a existência do crime, e partimos para o local imediatamente, porque, se esperarmos, a balsa pode se movimentar e encontrá-la novamente é muito difícil. Contamos muito com pessoas que denunciam. Chacareiros, fazendeiros. Eles são ameaçados por esses criminosos, que invadem propriedades rurais para ter acesso aos rios e rodovias.”
A Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad) informou ao Jornal Opção que estima que existam entre dez e 12 pontos de extração de minérios no estado. Todos situados em margens de leitos d’água e que se valem de técnicas rudimentares de extração. Entre 2020 e 2022, a Semad fiscalizou sete desses pontos, e afirmou que dois outros receberão visitas em breve. Nessas operações, fiscais da secretaria embargaram as áreas e lavraram autos de infração.
A Semad informou também trabalhar para regularizar os mineradores, fazendo-os adotar práticas legais. “Estima-se que existam 100 pontos a serem regularizados e 60% deles já receberam equipes de fiscalização. Em 2022, foram emitidas 270 licenças relacionadas à extração mineral no estado de Goiás. Esse número engloba todos os tipos de licença (licença prévia, de instalação e de operação) para diversos portes de mineradoras.”
Colaboração
Em janeiro deste ano, a Polícia Federal (PF) deflagrou em Goiás a Operação Fugitivos, visando combater os garimpos ilegais. Dez policiais federais já cumpriram dois mandados de busca e apreensão na cidade de Catalão, contra o garimpo de ouro. As investigações iniciaram-se a partir de uma ação policial no Rio Corumbá, próximo ao município de Orizona. Na ocasião, os suspeitos fugiram e deixaram para trás parte de seus pertences, instrumentos usados no garimpo ilegal, que foram apreendidos. A PF destruiu balsas e motores que não puderam ser movidos do local.

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