Imigração, alta nos preços dos combustíveis e grãos como trigo estão entre as preocupações do momento
O conflito armado entre Rússia e Ucrânia, diretamente, não se restringe apenas àquela região. Pelo menos, isso é o que concluem especialistas ao Jornal Opção. Neste momento, o ‘olhar’ mundial se volta para analisar quais serão os impactos do ataque comandado pelo presidente russo Vladimir Putin ao país vizinho, que foi invadido nessa quinta-feira, 25. De imediato, a repercussão já foi negativa – e mesmo de longe, o Brasil não se encontra fora desse cenário de possíveis repercussões negativas.
No âmbito político internacional, por exemplo, o presidente norte-americano Joe Biden sinaliza que irá anunciar sanções econômicas mais severas contra a Rússia e a União Europeia se comprometeu a impor sanções “maciças” ao país de Putin. Nesse cenário, os impactos em todo o mundo podem ser em decorrência da imigração da população da Ucrânia, fugindo da guerra e do aumento, imediato, do preço da gasolina e de grãos como o trigo, por exemplo. Isso porque, a Rússia é um dos maiores produtores de Petróleo mundial.
Atualmente, a produção do país ultrapassa os 10 milhões de barris por dia. “O país é ainda o maior fornecedor de gás natural da Europa, o barril já bateu o preço de mais de U$ 100, isso faz com que tenhamos de imediato mais aumento no preço dos combustíveis no Brasil, a Rússia também é o polo de exploração e produção de diversas outras commodities, como minérios e grãos. A exportação desses bens também deve ser dificultada pelas sanções, causando ainda mais danos”, alerta o advogado, especialista em Direito Internacional, Leonardo Leão.
Em efeito cascata, a alta do preço do petróleo impacta também a inflação mundial, e consequentemente o Brasil, que já vem sofrendo altas desde o início do ano passado. Essa situação, inclusive, torna difícil para que o Banco Central brasileiro possa conduzir e controlar os preços e manter as metas inflacionárias, sendo necessário adotar taxas de juros mais altas por um longo período de tempo. Já na questão geopolítica, cujo posicionamento dos EUA e Europa é de conflito, a visita recente do presidente Jair Bolsonaro (PL) à Rússia pode ser ruim para a imagem do país. “Infelizmente o presidente errou ao fazer uma visita desnecessária e manifestar apoio ao presidente Putin, economicamente e historicamente os Estados Unidos são parceiros mais importantes para o Brasil que os russos, e o que o presidente demonstrou nessa visita foi muito mais um ato contra o presidente Biden que pró Rússia, isso é muito ruim para o Brasil”, analisa o especialista.
O analista político Leopoldo Vieira também vê como principal impacto da crise ucraniana para o Brasil é em relação ao preço dos combustíveis. “Como efeito colateral da guerra, o contrato futuro do petróleo Brent em Nova York subiu nesta manhã a 8,08%, cotado a US$104,68, o que deve pressionar a Petrobras e o sistema político, uma combinação que traz risco à atual política dolarizada” diz Leopoldo. A alta do petróleo, em virtude da Ucrânia, também influencia no preço dos transportes e alimentos, temas caros para as camadas de baixa e média renda, afora a escassez nas bombas de gasolina.
Outro alerta é para a instabilidade e incerteza no cenário econômico, sendo impactado três principais áreas, como inflação e crescimento mundial; política monetária e ativos emergentes; e as commodities. Esses aspectos são a preocupação da economista Fernanda Mansano. “Veremos maior inflação, menor crescimento econômico, fuga de capital dos países emergentes, dólar forte e queda generalizada nos ativos de riscos. No front monetário, veremos uma possível mudança de trajetória ou, ao menos, maior cautela na manutenção do ritmo contracionista dos bancos centrais. A alta nas commodities corrobora com a piora na inflação global e a deterioração das disrupções nas cadeias de suprimentos”, pontua.
Historicamente, os conflitos entre Rússia e Ucrânia não são atuais, no entanto, têm aumentado exponencialmente nos últimos meses. Historiadores apontam que as divergências entre os dois países tiveram origem após a Guerra Fria, quando houve a expansão da Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO) para o leste europeu, e a incorporação de países que faziam parte da antiga União Soviética. O fato que incomodou o Kremlin foi a intenção da Ucrânia em negociar uma possível adesão ao grupo.
Com o bombardeamento da capital ucraniana, Kiev, nessa quinta, acende o sinal de alerta na Europa. O historiador e antropólogo português Fabiano de Abreu Agrela relembra de acontecimentos na região que provocaram imigrações. “Houve uma grande entrada de ucranianos em Portugal na década de 90, início de 2000 e 2014. Da última vez, vieram muitos ucranianos e, de certa maneira, a gente tem que receber essas pessoas e tentar colocar no mercado de trabalho, e o governo tem que ter estratégia em relação a isso também”, pontua.