Rússia e países europeus estão à beira do colapso com consequências econômicas
Com o confronto avançando para o sexto dia, Rússia lida com sanções. Gigantes do petróleo deixam o pais e corrida aos bancos faz moeda despencar. Ucrânia teme desabastecimento
Cinco dias de guerra e nenhum sinal de trégua. Para apertar o cerco contra a Rússia, que invadiu a Ucrânia, Estados Unidos e União Europeia elevaram o tom e reforçaram as sanções econômicas ao país de Vladimir Putin. No primeiro dia útil após o anúncio da retirada de bancos russos do Swift, a rede financeira internacional, o caos prevaleceu e pode levar a economia russa à recessão.
O rublo, a moeda russa, despencou 30% ante o dólar, o maior tombo diário da história. A taxa de juros saltou de 9,5% para 20% ao ano e a Bolsa de Valores ficou fechada para evitar o pior. Com o arrocho imposto pelo Ocidente, a população russa promoveu uma corrida aos bancos, o que deve levar o sistema financeiro ao colapso nos próximos dias. Teme-se a volta do que se viu nos anos de 1990, de miséria e fome.
No total, os bancos centrais de todo o mundo já bloquearam US$ 122 bilhões de investidores russos, incluindo recursos de Putin. Desse total, US$ 24 bilhões foram retidos pela Suíça, que quebrou uma tradição e aderiu às restrições impostas pela UE. A Suíça sempre se manteve neutra em relação a conflitos em outros países. Foi uma quebra de paradigma. O maior volume de dinheiro bloqueados, porém, está na França, mas de US$ 45 bilhões.
Os russos foram ainda surpreendidos pela debandada das multinacionais de petróleo da Rússia: as gigantes Shell, BP e Equinor decidiram encerrar as parcerias com o país. Controlada pelo governo norueguês, a Equinor vai suspender novos investimentos na Rússia e iniciar o processo de saída das joint-ventures que mantém com companhias de energia locais. A anglo-holandesa Shell romperá laços com estatais russas e sairá de negócios. A petrolífera britânica BP já havia declarado que se desfaria de sua fatia na estatal russa de petróleo Rosneft. Tanto o Reino Unido quanto a Noruega integram a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) — aliança militar liderada pelos Estados Unidos.
O economista César Bergo, sócio diretor da Open Invest, avalia que o maior impacto do conflito armado será no fornecimento de gás aos países europeus. “A Europa é altamente dependente da Rússia nesse tocante. Por outro lado, economicamente, a Rússia tem mais a perder do que o mundo. Embora a Otan não tenha sido incisiva na defesa da Ucrânia, os embargos econômicos, sobretudo por parte da UE dos EUA, causarão muitos danos ao país russo”, explicou.
Segundo Bergo, o Brasil será afetado de várias formas pelo conflito, economicamente, por causa da alta dos preços do petróleo e do trigo, e diplomaticamente, devido à ausência de um posicionamento explícito do presidente Jair Bolsonaro (PL) contra os ataques à Ucrânia. “Temos a falta de sensibilidade diplomática afetando a reputação do nosso país”, pontuou. Para o cientista político e advogado constitucionalista Nauê Bernardo de Azevedo, a “neutralidade” de Bolsonaro pode ser interpretada como adesão ao pleito russo perante a Ucrânia, com consequências amargas.
O sociólogo e economista pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) Vinícius do Carmo vai além, e destaca como outras sanções impostas à Rússia impactam o sistema do país. “Ao mesmo tempo, vemos as ligas esportivas adotarem fortes sanções contra a federação russa de esportes. Essas punições têm o potencial para despertar um sentimento de revanche e trazer um resultado inverso ao esperado”, ressaltou. A União Europeia também anunciou o fechamento do espaço aéreo para todos os aviões russos, inclusive jatos privados.
“O que sabemos, até agora, é que a coalizão ocidental está ensaiando impor quase um bloqueio total à economia russa, excluindo-os das conexões do mercado global”, observou Vinícius do Carmo.