Bolsonaro pode impor Flávia Arruda como candidata a governadora do DF
O presidente pode até apoiar Ibaneis Rocha, por quem não nutre muita simpatia, mas ele quer bancar sua ministra, que é popular e não tem desgaste
Quando se fala do governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), políticos, empresários e comentaristas não falam em “competência” administrativa e em “capacidade de articulação política”. Alguns até “torcem” o nariz.
Pelo contrário, fala-se que Ibaneis Rocha, a despeito de um orçamento bilionário, não é um gestor eficiente e ágil. Chega-se a comentar que terceirou a gestão pública para um grupo de auxiliares. Líderes locais admitem que foi uma “bola fora” apoiá-lo em 2018. O bancaram por falta de opção, ante o desastre da gestão desmotivada de Rodrigo Rollemberg (há quem sinta “saudade” do ex-governador). Agora, preocupados com seus próprios projetos, notadamente o da reeleição, vários políticos estudam “abandoná-lo” na chamada “hora agá” — por volta de julho e agosto deste ano.
Desgastado, por não fazer uma gestão eficiente — Brasília é uma cidade “maquiada”, mas não administrada —, Ibaneis Rocha está à espera de um milagre: que a ministra-chefe da Secretaria de Governo, deputada federal licenciada Flávia Arruda (PL), dispute mandato de senadora e desista de pleitear o governo do DF.
De fato, Flávia Arruda ainda não definiu seu projeto político, e pode disputar tanto mandato de governadora quanto de senadora e, até mesmo, de deputada federal. O que não quer é ficar sem mandato entre 2023 e 2026.
Bem avaliada e popular — e tendo o apoio do marido, o ex-governador e engenheiro José Roberto Arruda, popularíssimo em Brasília —, Flávia Morais é considerada, por lideranças locais, como eleitoralmente mais viável do que Ibaneis Rocha. Resta saber se quer arriscar. Ao contrário de Ibaneis, milionário e com poder, a deputada não tem a mesma estrutura do governador.
Há um fator, porém, que pode desequilibrar o jogo: Jair Bolsonaro. O presidente tem prestígio em Brasília e, se disser que vai apoiar Flávia Arruda, a situação de Ibaneis Rocha ficará complicada. Porque ele ficará isolado. O PT de Lula da Silva, por exemplo, não o bancará. O Podemos de Sergio Moro e do senador José Antônio Reguffe não tem nenhum entusiasmo com o governador.
Hoje, Flávia Arruda é a política de Brasília que mais aglutina. Recentemente, quando o ministro-chefe da Casa Civil, senador licenciado Ciro Nogueira, do Progressistas e autocognominado Rei do Centrão, tentou derrubá-la do ministério, usando deputados do PP, do PL e do Republicanos, recebeu um recado duro de Bolsonaro: a ministra não seria demitida por notas plantadas na imprensa. Ibaneis Rocha pode até acabar sendo o candidato “do” presidente em Brasília, mas hoje não é. A preferida, mas ainda não ungida, é Flávia Arruda, que a turma de Ciro Nogueira chama, de maneira depreciativa, de “Arrudinha”, com o objetivo de a denominar pelo sobrenome do marido, tentando reduzir sua força política. O que soa e, no fundo, é discriminação contra a mulher e política Flávia Arruda.
Os três mosqueteiros da oposição
No campo explicitamente oposicionista, há três pré-candidatos considerados “fortes” e que podem surpreender: os senadores Reguffe, Leila Barros (Leila do Vôlei), do Cidadania, e Izalci Lucas, do PSDB. Unidos, podem se tornar imbatíveis. A questão é que, apesar de relativamente “unidos”, os três não querem abrir mão da cabeça de chapa. Todos querem disputar o governo.
Há quem postule que, na hora agá, por falta de estrutura — eleição para senador é muito diferente de eleição para governador (quando se precisa de mais estrutura e articulação política, sendo fundamental agregar apoios) —, Reguffe pode desistir da disputa para governador, optando pela reeleição, que pode ser menos complicada para ele. Leila Barros, se conquistar o apoio de Izalci Lucas e Reguffe, será um páreo duro tanto para Ibaneis Rocha quanto para Flávia Arruda. O mesmo ocorrerá se Izalci Lucas conquistar o apoio de Reguffe e Flávia Arruda. Os dois senadores poderiam apoiar Reguffe? É possível. Mas a tendência — repita-se: tendência — é que o candidato do grupo seja Leila Barros ou Izalci Lucas, com Reguffe, tido como imbatível (sua imagem ética é insuperável em Brasília), disputando mandato de senador.
Se Leila Barros, Reguffe e Izalci Lucas se dividirem, aí poderão se cotizar para comprar o tailleur de posse de Flávia Arruda. Ou, então, o terno de posse de Ibaneis Rocha. O caminho da derrota, no caso dos três senadores, é a divisão. A união pode ser o caminho da vitória.