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Bancada evangélica está se aproximando de Lula

Bancada evangélica está se aproximando de Lula

Depois de quatro anos aliados a Jair Bolsonaro, em quem encontravam eco nas pautas conservadoras, os integrantes da Bancada da Bíblia agora acenam ao governo Lula de olho em questões práticas, como a recuperação da economiaGABRIELA RÖLKESe nos últimos quatro anos os deputados e senadores evangélicos agiram majoritariamente em bloco na defesa do governo de Jair Bolsonaro e de suas pautas conservadoras, agora o grupo começa a dar mostras de que não deve seguir tão unido assim. Pelo menos parte da chamada Bancada da Bíblia, uma das mais influentes do Congresso, já começa a sinalizar que, embora vá se manter firme na chamada pauta de costumes, não vai fazer oposição sistemática ao governo petista. Um dos primeiros sinais de que o coro já não canta tão afinado foi a dificuldade do grupo de definir a liderança da Frente Parlamentar Evangélica (FPE) para o biênio 2023/2024. A presidência da frente será alternada a cada seis meses entre os deputados federais Eli Borges (PL-TO), que segue como ferrenho defensor de Bolsonaro, e Silas Câmara (Republicanos-AM), que vem estabelecendo canais de diálogo com o governo Lula.Sucessor de Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), que presidiu a frente no último biênio, Eli Borges, que ficará na liderança do grupo neste primeiro semestre de 2023, prometeu uma relação “respeitosa” com o governo petista, embora deixe nítido que tem grande afinidade ideológica com Bolsonaro. Em suas redes sociais, propagandeia o “legado bolsonarista no Tocantins” e aparece lado a lado com o ex-presidente em posts “contra o aborto” e “em defesa da família”. Para chegar ao comando da Frente, contou com as bênçãos de Valdemar Costa Neto, presidente do seu partido e espécie de CEO informal do Centrão.Por sua vez, Silas Câmara, importante liderança da Assembleia de Deus do Norte e organizador da Marcha para Jesus no Amazonas, chegou a se reunir com integrantes do governo federal, como o ministro da Integração Nacional, Waldez Góes, e o ministro da Pesca e Aquicultura, André de Paula. O amazonense foi alçado como um dos líderes da bancada evangélica, apesar da resistência de parte do grupo — ele foi processado no Supremo pela prática de rachadinha, confessou a ação criminosa, pagou uma multa e conseguiu o arquivamento da ação.LÍDERES Eli Borgesvai comandar a Bancada da Bíblia nos primeiros seis meses do ano, enquanto Silas Câmara Coordenará os evangélicos nos seis meses seguintes.A Frente Parlamentar Evangélica foi criada em 2003, e desde então vinha definindo seus líderes de forma consensual. Esta foi a primeira vez em que houve disputa pelo comando do grupo. Uma eleição chegou a ser realizada no início do mês, mas acabou sendo anulada por discrepâncias entre o número de votos e o de eleitores inscritos. “A gente corrige gays, corrige todo mundo, e faz essa sacanagem aqui dentro?”, protestou o deputado Otoni de Paula (MDB-RJ), pastor da Assembleia de Deus de Madureira. O acordo pela alternância de poder entre Eli Borges e Silas Câmara foi selado na quarta, 8. Dois nomes desistiram da disputa — o próprio Otoni de Paula, que anunciou apoio a Eli Borges, e o senador Carlos Viana (PSD-MG). Bolsonaristas fiéis até outro dia, os dois, cada um à sua maneira, deram um jeito de tentar se desvincular do ex-presidente. Otoni criticou o silêncio de Bolsonaro após as eleições: “me posicionei contrário ao silêncio sepulcral dele”. Por sua vez, Viana, que disputou o governo de Minas Gerais em outubro pelo PL, se disse “traído” e “abandonado” pelo capitão, que apoiou Romeu Zema (Novo).Segundo Otoni, a frente fará oposição ao governo Lula apenas no que for relacionado à pauta de costumes — “mas não acredito que o presidente vá cometer o erro de enviar esse tipo de pauta, pois o Congresso é conservador”. Quanto aos demais assuntos, como economia ou meio ambiente, por exemplo, ele aposta que o petista não terá maiores dificuldades com a base evangélica. “Esses temas são negociados diretamente com os partidos, e não com a nossa bancada”, diz. O deputado Gilberto Nascimento (PSC-SP) também diz não acreditar numa oposição sistemática da Bancada da Bíblia ao governo Lula. “O nosso povo não é um povo da guerra”, afirma. “Pessoalmente, não acho que seja o momento de fazer oposição; a gente tem que pensar no Brasil. A economia precisa se equilibrar.”A bancada evangélica teve protagonismo no último governo porque Bolsonaro tinha uma dívida com essa parcela do eleitorado, fundamental para sua eleição em 2018. Dois ministérios foram entregues a pastores — o da Mulher, Família e dos Direitos Humanos ficou com Damares Alves; e o da Educação foi entregue a Milton Ribeiro. No MEC, aliás, um esquema de corrupção resultou na prisão do então ministro e de outros dois pastores, Gilmar Silva dos Santos e Arilton Moura. A dupla falava em nome da pasta e cobrava propina, em dinheiro vivo ou em barras de ouro, em troca da liberação de verbas federais para escolas e creches, especialmente em municípios comandados por prefeitos de partidos do Centrão.Tradicionalmente, os evangélicos, em especial de denominações pentecostais e neopentecostais, pertencem ao grupo que oferece maior resistência a pautas progressistas, associadas a partidos de esquerda como o PT de Lula — e não foi diferente em 2022. Mas a aproximação de parte significativa da bancada com o governo mostra que o pragmatismo fala mais alto: para se manter em suas posições de poder, parlamentares evangélicos precisam levar benefícios e recursos para seus redutos eleitorais.

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