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As flores não vão até as abelhas, mas os agrotóxicos sim e as dizimam impiedosamente

As flores não vão até as abelhas, mas os agrotóxicos sim e as dizimam impiedosamente

[07:42, 24/01/2024] Morais: Soares havia sido nomeado para a Superintendência do Patrimônio da União em Goiás no ano passado
Morreu, nesta terça-feira, o ex-vereador de Goiânia pelo Partido dos Trabalhadores (PT) e superintendente do Patrimônio da União em Goiás (SPU), Carlos Soares, aos 59 anos.
Carlos, irmão de Delúbio Soares, era uma das maiores lideranças da legenda petista em Goiás.
No ano passado, foi nomeado para o cargo na SPU e tinha a intenção de disputar novamente a Câmara de Goiânia.
Ele lutava contra uma leucemia. Porém, ainda não há informações sobre a exata causa da morte
Carlos estava internado na UTI do Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, e acabou não resistindo.
Pelas redes sociais, a família Soares divulg…
[08:35, 24/01/2024] Morais: As flores não vão até as abelhas, mas os agrotóxicos sim e as dizimam impiedosamente

Sinésio Dioliveira

Será mesmo que adianta cadastrar o apiário e avisar os vizinhos “ogrocultores” que se é criador de abelhas e solicitar que o fipronil não seja utilizado perto dos apiários?
Invejo a intimidade das abelhas com as flores. Na verdade, existem outros insetos que também desfrutam dessa intimidade sublime. Dessa relação de convivência tão próxima, cabem aos insetos realizarem uma função maravilhosa designada pelo grande arquiteto do universo, que é a polinização das flores, cujos insetos são os maiores responsáveis por este processo tão vital à nossa sobrevivência. Não confunda, altaneiro leitor, este arquiteto a que me refiro com o deus antropocêntrico vendido por aí e que tem uma necessidade gigantesca de dinheiro e que pede sacrifícios hercúleos dos fiéis e acaba não lhes dando o retorno.
Ao transitarem no interior das flores, em busca de néctar e pólen, os insetos levam em seu corpo grãos de pólen do gameta masculino (androceu) para o gameta feminino (gineceu). Fato que resulta em gravidez no reino vegetal: algo semelhante ao que acontece no reino animal. Gravidez esta que dá à luz a frutas, grãos, oleaginosas, legumes entre outros alimentos, que saciam a fome de oito bilhões de pessoas mundo afora e que também envolve a participação de outros atores no processo de polinização, como os morcegos, os pássaros e até o vento.
A parte principal do palco é, no entanto, ocupada pelos insetos, dentro dos quais estão as abelhas, que são as grandes estrelas, haja vista que cerca de 90% da agricultura mundial depende do trabalho delas. Não é à toa que são consideradas os animais mais importantes do planeta. Em respeito a esses serzinhos gigantes dentro da produção de alimentos, cujo tempo de vida não passa de um mês, a Suécia realizou em 2017 uma importante homenagem a elas, intitulada de “Orientação — Monumento às Abelhas”. O monumento teve como justificativa a morte desses insetos em decorrência de inseticidas utilizados no tratamento de determinada sementes, que assim ocasionam danos ao processo neural das abelhas, as quais não conseguem localizar os alimentos e consequentemente acabam morrendo de fome.
Por aqui, em nosso torrão anhanguerino, os veículos de comunicação divulgaram que três fazendeiros de dois municípios promoveram uma chacina brutal de abelhas no dia 16 deste mês. Esses “ogrocultores”, chafurdados na ignorância do desconhecimento da necessidade de preservação da biodiversidade, não tiveram seus nomes divulgados. Certamente é gente graúda que não anda descalça… Foram indiciados pela morte de nove milhões de abelhas. E abelhicídio, faz-se necessário dizer, não é notícia nova, há inúmeras ocorrências de chacinas de tal natureza em outros estados. Isso, na verdade, é um fato maligno no mundo
Conforme a notícia, o grande xerife ambiental delegado Luziano de Carvalho entrou no circuito do respectivo crime. Ele disse o que já é sabido por muitos: “A utilização de forma indevida de agrotóxico e que possa causar danos à saúde, à fauna e à flora são crimes ambientais”. Tomo a liberdade de perguntar ao eminente delegado, pelo qual tenho muito respeito: “Será mesmo, doutor Luziano, que adianta cadastrar o apiário e avisar os vizinhos ‘ogrocultores’ que se é criador de abelhas e solicitar que o fipronil (o demônio abelhicida) não seja utilizado perto dos apiários?” Pergunto, porém já sabendo que êxito nenhum terá isso, haja vista que os “ogrocultores” é gente bronca, sem sensibilidade ambiental e desconhecedora de que as abelhas são os insetos polinizadores mais importantes na cadeia produtiva de alimentos. E ainda produzem me
Essa chacina, a meu ver (estrábico), só se resolve com um bom tempo de xilindró e multa pesada. Os noticiários informaram que, se condenados, os fazendeiros podem pegar cana de quatro anos e desembolsar R$ 2 milhões por multa. Isso, no entanto, “se” condenados. Essa conjunção condicional — se — me transporta a uma frase brilhantemente metafórica, que é atribuída ao jornalista e renomado escritor uruguaio Eduardo Galeano: “A justiça é como a serpente, só morde os pés descalços…” Se dependesse só do delegado Luziano (eis a conjunção “se” de novo), a serpente certamente morderia todos os pés…
Sinésio Dioliveira é jornalist

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