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Coronel que autorizou mais de 4 mil torturas é condenado à prisão perpétua

Coronel que autorizou mais de 4 mil torturas é condenado à prisão perpétua


Anwar Raslan, ex-oficial de inteligência do regime de Bashar Al-Assad, é acusado pelas mortes de 58 pessoas e de atos de crueldade contra 4 mil detentos de Al-Khatib, masmorra situada em Damasco. Advogados que participaram do julgamento falam ao Correio
Durante 497 dias, Anwar Raslan — então coronel da Segurança do Estado e oficial de inteligência do regime de Bashar Al-Assad — ordenou e supervisionou o assassinato de 58 prisioneiros e a tortura de outros 4 mil no famigerado centro de detenção de Al-Khatib, mais conhecido como “o inferno sobre a Terra”, em Damasco. A instalação carcerária era comandada pelo Branch 251, ramo da Direção Geral de Segurança (GSD), uma das quatro agências de inteligência da Síria e da qual o ex-militar fazia parte. Pelos crimes cometidos entre 29 de abril de 2011 e 7 de setembro de 2012, Raslan, 58 anos, terá que passar o resto da vida na cadeia. Ontem, a Alta Corte de Koblenz, no oeste da Alemanha, condenou o sírio à prisão perpétua. É a primeira vez, desde 2011, início da revolta popular na Síria, que a Justiça pune violações imputadas a Al-Assad.
Em seu veredicto, o tribunal reconheceu “um ataque extenso e sistemático contra a população civil” pelas forças do regime a partir de março de 2011, quando manifestações pró-democracia irromperam na Síria. Ao escutar a sentença proferida em árabe pelo juiz, Raslan não esboçou emoção.
A alta comissária da ONU para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, destacou que a decisão da Justiça alemã é “um salto histórico em busca da verdade, da justiça e das reparações pelas graves violações dos direitos humanos perpetradas na Síria por mais de uma década”. Raslan chegou a desertar e a fugir para a Alemanha, onde solicitou asilo.
Uma das testemunhas durante o julgamento histórico, Firas Fayyad estava abalado quando falou ao Correio. “Minha vida passou diante de meus olhos nas últimas cinco horas. Cada detalhe de minha experiência é muito doloroso”, admitiu o cineasta, que ficou trancafiado por dois meses e meio em Al-Khatib, onde foi torturado por Raslan e violentado sexualmente. “Hoje, tento viver em paz, como uma pessoa normal. Agradeço à Alemanha por ter levado a sério o nosso sofrimento e por ter construído um grande exemplo de sistema judicial para crimes de guerra”, acrescentou Fayyad, que concorreu ao Oscar de melhor documentário com Últimos homens em Aleppo (2018) e The cave (2020).

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