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Inflação vai deixar população brasileira mais pobre por anos

Inflação vai deixar população brasileira mais pobre por anos

O brasileiro está saindo do período de dois anos de pandemia mais pobre. A inflação das famílias de menor poder aquisitivo cresceu em março, mais uma vez, em ritmo mais acentuado do que para as famílias de maior rendimento, mostram os últimos cálculos do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). O principal motivo foi a alta dos alimentos, mais relevantes na cesta de consumo dos mais pobres. Os preços altos vão deixar a população mais pobre, preveem especialistas.

Em março, o Indicador Ipea de Inflação por Faixa de Renda mostrou aceleração de preços das famílias de renda muito baixa (1,74%) e de renda baixa (1,72%). Com o resultado, a inflação dessas faixas de renda passou a acumular alta de 12% e 11,6%, respectivamente, nos últimos 12 meses. A inflação das famílias de renda alta, por sua vez, apresentou aumento de 1,24% em março. Neste caso, a inflação acumulada em 12 meses é de 10%.

A cesta básica hoje custa quase 50% mais que em 2020. Bens de consumo duráveis subiram tanto que hoje o carro usado vale mais que quando foi lançado, zero km, há dois anos. O brasileiro está mais pobre porque a renda das famílias não está acompanhando essa carestia. O salário mínimo subiu menos que a inflação. Além disso, os produtos estão subindo muito mais que os índices de preços. Mesmo que o salário acompanhasse a inflação, não seria suficiente para repor o poder da compra.

Economistas entrevistados pelo UOL apontam que a inflação alta vai deixar os brasileiros mais pobres por anos. Isso porque os itens que mais estão subindo são justamente os essenciais, como alimentos, gás de cozinha e energia, que mais pesam na cesta das famílias de menor renda. “A inflação que temos hoje empobrece o brasileiro, que tem seu poder de compra reduzido, pois alimentos, tarifas públicas, gás de cozinha, combustíveis, energia, tudo tem subido muito acima da inflação, e a renda não vem crescendo”, diz Antonio Corrêa de Lacerda, professor da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e presidente do Conselho Federal de Economia.

Para Fausto Augusto Júnior, economista do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), a desregulamentação do mercado de trabalho pela reforma trabalhista, o fim dos estoques reguladores dos alimentos e a descontinuidade das políticas de fortalecimento da agricultura familiar colocaram a economia brasileira em um círculo vicioso, difícil de ser revertido no curto prazo. De acordo com Corrêa de Lacerda, da PUC-SP, a recuperação do poder aquisitivo do brasileiro passa pelo crescimento da economia. E, para isso, o governo precisa adotar políticas de competitividade para gerar mais empregos em setores de maior valor agregado, como na indústria, que pagam salários maiores.

No entanto, a inflação afeta também as famílias de classe mais elevadas, mas elas conseguem de alguma forma ajustar o orçamento. “Além disso, essas classes que têm algum tipo de investimento financeiro conseguem se aproveitar da alta dos juros para melhorar o rendimento das aplicações. As classes de menor renda não têm essas ferramentas para enfrentar esses aumentos de preços”, aponta Guilherme Moreira, coordenador da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas, da Universidade de São Paulo (Fipe).

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