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Mal assumiu o cargo, general bate de frente com o ministro da Defesa

Mal assumiu o cargo, general bate de frente com o ministro da Defesa

E não só com ele, mas também com os comandantes das Forças Armadas

Ricardo Noblat

Do ministro José Múcio Monteiro Filho, da Defesa, ontem, no Rio:

“Quando vai para a política, você começa com o proselitismo da candidatura e das ideias. Quando perde a eleição, você volta com isso aos quartéis, começa a criar grupos políticos e perde o foco principal das Forças Armadas. Acho que, se quer ir para a política, vá. Mas se for, fica lá”.
Do general Marco Antonio Amaro dos Santos, que há menos de uma semana assumiu o Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da Presidência, em entrevista, ontem, ao jornal Valor:
“Isso vai valer para outras carreiras de Estado? Se valer, concordo plenamente. É uma opinião pessoal”.

O general parece não entender, ou finge que não entende, uma coisa: militar é diferente de civil. Militar é o poder armado, civil é o desarmado. Portanto, isso deve ser levado em conta ao se falar em carreiras de Estado e em regras que as orientem.
O ministro da Defesa move-se para despolitizar o meio militar e conta, para isso, com o apoio dos comandantes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica. Ou despolitizar ou evitar que ele se politize cada vez mais como querem os bolsonaristas radicais.
Está com destaque no manual da extrema direita em toda parte: é preciso politizar os militares e as forças de segurança para que eles ajudem a combater os líderes e seus liderados de esquerda. Donald Trump tentou fazer isso. Bolsonaro foi mais bem-sucedido.
Insiste o general Amaro dos Santos:
“Se você é um militar e é convidado para um cargo qualquer em um ministério qualquer, por exemplo, só pode passar no máximo dois anos. Você, obrigatoriamente, tem que retornar à Força em dois anos ou passará para a reserva”.
Não é disso que se trata, e o general sabe que não é, apenas finge não saber. Questionado sobre a imagem das Forças Armadas diante do processo de politização vivido no governo Bolsonaro, ele admitiu que houve um desgaste:
“Houve um arranhão pelo menos nessa impessoalidade e nessa institucionalidade”.
Mas fez questão de ressaltar que não concorda quando se fala que houve uma politização das Forças Armadas nos últimos anos:
“Houve uma coisa episódica, não foi geral. Acho meio forte afirmar que houve um processo de politização das Forças Armadas. Com algumas pessoas, alguns nichos, pode ter ocorrido, mas não foi uma coisa institucionalizada. São pessoas, não a instituição”.
Fato: os militares apoiaram em massa a eleição de Bolsonaro em 2018. Fato: informações da inteligência militar foram passadas a Bolsonaro para facilitar sua tarefa de se eleger. Fato: mais de 7 mil militares foram empregados no governo.
Fato: os militares apoiaram em massa a reeleição de Bolsonaro. Fato: os militares abrigaram à porta de quartéis os golpistas que pediam a anulação da vitória de Lula. Fato: os militares assistiram de braços cruzados à tentativa fracassada de golpe em 8 de janeiro.
Como é que o general Amaro dos Santos fala que a “instituição” não, apenas “algumas pessoas, alguns nichos” se meteram com a política? Conversa para boi dormir. Conversa na contramão do que pregam o ministro da Defesa e os atuais comandantes militares.
Quem cuida da segurança de Lula é a Polícia Federal. O general quer que o GSI volte a cuidar. No lugar de Lula, você confiaria sua vida a um general que pensa como Amaro dos Santos?

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